Segunda reportagem de série especial conta a história de casais que participaram da edição voltada para migrantes do casamento coletivo da DPE-RR
Gilmar e Eliane estão juntos há mais de 7 anos – FOTO: ASCOM/DPE-RR
O amor não conhece barreiras geográficas, sociais ou culturais. Gilmar Carvalho, brasileiro de 43 anos, e Eliane Garcia, venezuelana de 30, são exemplos disso. “Foi amor à primeira vista. Em pouco tempo, percebi que meu lugar era com ela”, conta Gilmar. Já Eliane relembra com carinho sua determinação: “Aprendi português para podermos nos entender melhor. Foi difícil no começo, mas valeu a pena”, relata.
Os dois oficializaram a união no casamento coletivo “Enfim, Casados!” – edição Sem Fronteiras, promovido pela Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR), que uniu quase 200 casais formados por migrantes ou com um dos cônjuges sendo brasileiro.
O casal conta que a decisão de participar do casamento coletivo veio pela praticidade e pela chance de realizar um sonho sem custos. “Foi um dia lindo, um sonho de menina realizado”, disse Eliane. Para Gilmar, a iniciativa da Defensoria foi crucial: “Abriu uma porta para quem quer realizar esse sonho, mas não tem condições”.
Após sete anos juntos, incluindo um ano de casados, ambos destacam o quanto o matrimônio fortaleceu o respeito e a confiança. “Sempre o valorizei, mas agora temos um compromisso maior. Amo ele ainda mais”, reflete Eliane. O casal planeja construir um futuro sólido, focando na casa própria, e decidiu encerrar a jornada de filhos com o pequeno de quatro anos que tiveram juntos.
Yusmeris e Jesús se conheceram há 6 anos, ainda na Venezuela – FOTO: ASCOM/DPE-RR
Outra história que a DPE-RR também acompanhou é a de Yusmeris González, 32, e Jesús Ramos, 24. Naturais da Venezuela, eles enfrentaram juntos dificuldades financeiras e desafios para começar uma nova vida em Roraima.
Tudo começou em uma fazenda, onde Yusmeris buscava sustentar seu filho mais velho e acabou conhecendo Jesús e sua família, que trabalhavam no local. “Começamos como amigos e, aos poucos, decidimos construir uma vida juntos”, relembra Yusmeris.
Com três filhos — um do relacionamento anterior dela e dois juntos —, o casal veio ao Brasil buscando melhores condições de vida após perder tudo para uma enchente e uma praga que dificultou o cultivo na fazenda onde trabalhavam na Venezuela. A chegada a Roraima foi difícil, mas nunca faltou fé ao casal.
Posteriormente, o casal conseguiu se estabelecer e voltou a pensar no tão sonhado casamento, que planejava desde antes de sair da Venezuela, mas que, por conta de dificuldades burocráticas no país natal, foi sendo adiado.
“Sempre quisemos nos casar, mas na Venezuela era impossível porque Jesús perdeu a certidão de nascimento durante uma enchente. Quando viemos para o Brasil, soubemos, através de irmãos da igreja, que a Defensoria estava organizando casamentos. Isso foi uma resposta às nossas orações”, conta a dona de casa.
Hoje, o casal está há um ano, enfim, casado, e continua batalhando pelo bem da família. “Estamos construindo essa vida aqui no Brasil, com nossos filhos e a fé em Deus que nos fortalece”, finaliza Jesús.
O casamento coletivo, segundo a defensora pública Elceni Diogo, coordenadora da ação, é essencial para garantir o reconhecimento de direitos importantes, como previdenciários, sucessórios e trabalhistas. Além disso, fortalece a unidade familiar para fins de Cadastro Único, interiorização e acesso a abrigos.
“Sabemos que a grande maioria não tem condições financeiras de arcar com os custos do casamento, da tradução e do apostilamento dos documentos, dentre outras despesas. A Defensoria Pública reúne os parceiros necessários para tornar isso possível, algo que os casais, sozinhos, não conseguiriam realizar”, ressalta a defensora.
Mesmo com dificuldades burocráticas, a defensora explica que é papel essencial da Defensoria garantir que essa parcela da população tenha seus direitos assegurados. “O maior desafio é a falta de documentação de muitos migrantes. A maioria não possui os documentos exigidos. Mas nós os auxiliamos para que tudo seja possível”, pontua.
Esta reportagem é a segunda da série especial “Direito Sem Fronteiras”, uma iniciativa da Assessoria de Comunicação da DPE-RR. A série tem como objetivo destacar as diversas frentes de atuação da instituição na garantia de direitos de pessoas migrantes, evidenciando histórias que refletem o compromisso da Defensoria com a dignidade e a cidadania, independentemente das barreiras geográficas ou culturais.