Dados da Arpen são de janeiro deste ano até esta segunda-feira (15); Mutirão “Meu Pai Tem Nome” busca diminuir esse número
FOTO: ASCOM/ DPE-RR
Ana Luisa Rodrigues Gonçalves contou apenas com a presença da mãe e da avó em sua vida.
A ausência paterna é uma realidade crescente no Brasil e, em Roraima, o cenário não é diferente. De janeiro até esta segunda-feira (15), 701 crianças não foram registrados com o nome do pai. Por dia, são quase 4 registros com os pais ausentes. Os dados são da Associação Nacional dos Registros de Pessoas Naturais (Arpen).
Entre os municípios, Boa Vista lidera com 603 registros sem o pai. Seguido de Alto Alegre (28), Rorainópolis (26) e Mucajaí (21). Já Bonfim e Caracaraí, possuem a menor quantidade, com 9 e 4, respectivamente. Em comparação ao mesmo período em 2023, o total registrado neste ano representa uma diminuição de cerca de 20,3%.
As consequências desse abandono, porém, são sentidas, gerando traumas e dificuldades persistentes para homens e mulheres que crescem sem uma figura paterna.
Ana Luisa, de 20 anos, é um desses casos. A estudante de graduação foi criada apenas pela mãe e pela avó. Ela explica que a infância e a adolescência foram os períodos mais difíceis, tanto no aspecto emocional quanto no financeiro.
“Eu falava com a minha mãe, perguntava por que ele não era tão presente, e ela não sabia responder. Minha mãe também me teve muito jovem, com 17 anos. Então, ela era muito imatura, muito ingênua. Também não sabia. Mas ele simplesmente não quis participar”, conta a estudante.
Apesar de não contar com seu pai biológico ao longo da vida, Ana afirma que hoje em dia lida bem com a situação, mesmo convivendo com uma constante desconfiança em relação a homens. “Ele simplesmente não quis participar, então segui”.
As consequências da ausência paterna se estendem até a vida adulta. “Um adulto que não teve essas questões tratadas na infância pode enfrentar dificuldades em seus relacionamentos e desenvolver comportamentos autodestrutivos”, explica a psicóloga Dellyane Torres. No entanto, ela ressalta que é possível buscar ajuda terapêutica para reorganizar essas questões e desenvolver uma vida mais equilibrada.
A família é o primeiro espaço social de uma criança, onde ela aprende a socializar e a lidar com o mundo. Portanto, a ausência de uma figura paterna pode levar a sentimentos de rejeição e ansiedade.
“Muitos impactos surgem durante a vida, e é interessante pensar que não é só na infância. Porque um dia ela é criança, mas depois se torna adolescente, e depois adulta. E, à medida que essas questões não são tratadas, organizadas, conversadas e refletidas, elas acompanham a pessoa ao longo da vida. Às vezes, só mudam um pouquinho, só se adequam àquela dificuldade, mas persistem”, destaca a psicóloga.
Outro ponto abordado pela profissional é a substituição da figura paterna por outras figuras masculinas presentes na vida da criança, como tios ou padrastos. Embora não substituam completamente a figura do pai biológico, essas pessoas podem oferecer o suporte emocional necessário. “O afeto é mais importante do que a questão biológica. Reconhecer pais socioafetivos é um passo importante”.
MEU PAI TEM NOME: A Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR) está mobilizada nacionalmente para o projeto “Meu Pai Tem Nome”, iniciativa do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege), que pretende reduzir o número de casos de filhos e filhas de pais ausentes, por meio de uma ação para reconhecimento de paternidade, realização de exames de DNA e atividades de educação em direitos, em uma programação voltada à efetivação do direito fundamental de filiação.
As inscrições vão até o dia 9 de agosto de 2024, através de formulário online, WhatsApp de agendamento (095) 98108-0700, ou presencialmente na unidade da Defensoria nos municípios de Roraima.
Podem participar pessoas sem o nome do pai ou da mãe na certidão de nascimento, e pessoas que desejam adicionar o nome do pai ou da mãe socioafetiva.